XII Encontro de Iniciação Científica & XI Encontro de Extensão

Ceará: terra da Luz, da Ciência e da Tecnologia

Juazeiro do Norte - CE


ISSN 1984-1876Setembro/2019

FEMINICÍDIO E ESPETACULARIZAÇÃO: UM ESTUDO SOBRE A ABORDAGEM MIDIÁTICA DO CRIME DE GÊNERO NO CASO ELOÁ CRISTINA PIMENTEL

José Armando Ferreira Oliveira1

Vítória Paiva Amorim2

Davi Alencar Cabral Ribeiro3

Priscila Ribeiro Jeronimo Diniz4

Introdução: Há exatos 10 anos, o Brasil parou em frente à televisão, como em uma espécie de “novela da vida real” para assistir ao desenrolar do mais duradouro sequestro já registrado no estado de São Paulo, tratava-se do fato em que Lindemberg Alves (22 anos), ex-namorado de Eloá Cristina Pimentel (15 anos), invadiu armado o apartamento da mesma e a manteve refém por cinco dias junto com sua amiga Nayara Rodrigues da Silva, e após tensas negociações e relevante envolvimento da mídia no processo, com programas televisivos falando ao vivo com Lindemberg por via telefônica, alavancando sua audiência. O caso terminou tragicamente depois de longas 100 horas de aflição: Eloá morreu após ser atingida por dois tiros efetuados pelo criminoso, repercutindo mundialmente e levantando o questionamento do tratamento dado pela mídia ao crime de homicídio feminino por questões domésticas, ainda não tipificado como feminicídio, que geralmente adota posturas sensacionalistas com discursos que refletem o gênero e criam um protagonismo da vítima perante o assassino, assim é de suma importância esse debate para observar se a realidade atual ainda é compatível com a mencionada. Nesse contexto, este estudo analisa até que ponto os meios comunicativos e sua espetacularização interferiram na consumação do crime de feminicídio contra Eloá, e o que mudou após tamanha repercussão quanto aos meios de combate a tal situação vulnerável. Objetivo: Procura-se como objetivo geral buscar referências e dados sobre o tratamento do crime de feminicídio na mídia, que comumente utiliza expressões como “Crime de amor” e “Crime passional” para referir-se a delitos de violência contra a mulher, baseada no gênero e relações domésticas, bem como especificadamente visa-se observar e comprovar como a atuação midiática interferiu diretamente no resultado trágico do caso Eloá, tornando o Lindemberg protagonista e esquecendo das relações abusivas existentes e da complexidade da referida temática. Metodologia: Optou-se por utilizar como método principal a pesquisa bibliográfica, mediante análise de artigos e documentos na área jurídica, midiática e sociológica, bem como no documentário “ Quem matou Eloá” de 2015, que relatou o caso. A abordagem utilizada é a qualitativa, assentada em visão crítica-descritiva, narrativa dos fatos acontecidos e suas estruturas, problematizações e causas para o desfecho, buscando examinar como a sua estrutura ensejou a tipificação em 2015 do crime de feminicídio e como a conjuntura encontra-se atualmente. Conclusão: Diante do exposto, chegou-se a alguns resultados iniciais. Primordialmente é nítido a parcela de responsabilidade da mídia no caso supracitado, sendo crucial este entendimento de que divulgar sem críticas ou ressalvas pertinentes o crime de feminicídio, acaba por sucumbir a vítima e legitimá-lo. De antemão, inicialmente, pode-se notar a estrutural cultura machista existente em nossa sociedade como fator determinante se aplicado ao caso. Entretanto, o objeto a ser pesquisado mais profundamente será demonstrado a partir da circunstancia que em nenhum momento, desde o sequestro até a consumação do homicídio, a mídia promoveu a discussão sobre a violência contra a mulher, e as expressões escolhidas para referir-se ao caso como as mencionadas são ainda empregados na cultura patriarcal e remetem a um estado de “violenta emoção” do criminoso, argumento este legalmente utilizado até o ano de 1940 para excluir a sua culpabilidade. Desta forma, ao usá-las, a mídia cria uma estigmatização do relacionamento abusivo, visto que Lindemberg agiu impelido por possessividade e não por amor exacerbado. Ademais, hodiernamente, nada mudou, o crime tratado ainda é uma complexa mazela social, e as vítimas são totalmente diminuídas frente ao assassino, por discursos como estes empregados no caso abordado e em outros mais recentes, que de certa forma impedem transformações que possibilitariam uma vida mais digna e sem violência para as mulheres.

Palavras-Chave: Feminicídio e mídia, Caso Eloá, Espetacularização

  1. Autor, Graduação (Cursando), FACULDADE PARAÍSO DO CEARÁ - FAP
  2. Co-autor, Graduação (Cursando), FACULDADE PARAÍSO DO CEARÁ - FAP
  3. Co-autor, Graduação (Cursando), FACULDADE PARAÍSO DO CEARÁ - FAP
  4. Orientador, Doutorado (Cursando), UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB